segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Som Nosso de Cada Dia - Snegs (1974)

            * Queria aproveitar a oportunidade de tentar descrever o indescritível para deixar minhas condolências para todos os familiares do músico Manito, falecido na última sexta-feira, 09, bem como ao do saudoso baterista Pedrinho. Dedico esse post especialmente para o trio, Pedrão Baldanza em pessoa e Manito e Pedrinho em forma de luz.


            Sim, o rock nacional é rico, riquíssimo, e teve nos seus anos setenta uma época muito fértil no aspecto criativo. Grandes instrumentistas, letristas e compositores circulavam entre as grandes rodas de música do país, seja no Rio de Janeiro, em São Paulo, ou mesmo no estado de Minas Gerais. Formado em 1971 em São Paulo, pelo multi-instrumentista Manito, que já havia sido peça importante nos “Incríveis”, pelo baixista gaúcho Pedrão Baldanza, que já havia tocado em algumas formações dos "Novos Baianos" e no "Perfume Azul do Sol" e o baterista Pedrinho, um verdadeiro virtuose. Da junção desses três músicos já calejados, surgiria uma das bandas mais revolucionárias do continente, o Som Nosso de Cada Dia. Tamanho elogio não se daria de outra forma senão pela imponente obra que a banda viria a lançar: seu debut seria a mostra que na terra do samba a brasilidade com o progressivo combinaria muito bem.
            O esqueleto do "Snegs" já estava pronto desde o final de 1973, e um dos problemas para sua produção foi o mau trabalho executado na parte de mixação, o que sem sombra de dúvida prejudicou na arte final, essa que é uma grande característica nos trabalhos mais rebuscados do gênero. A gravação, que ocorreu num espaço de 7 dias, ratificou duas coisas, a primeira seria a precariedade das produções brasileiras, e a segunda, o grande talento do trio para com as canções, que mesmo com um trabalho de edição corrido, as músicas em si era muito bem trabalhados pelo grupo, a fim de reduzir os possíveis estragos ainda maiores da precária produção. Uma observação importante é que Snegs, o neologismo que dá nome ao álbum, segundo o baixista Pedrão Baldanza, não quer dizer nada ao certo, é só um sentimento.
            As sete faixas (no lançamento original, considerando quem uma segunda prensagem, em CD, coloca "O Guarani" como a última faixa) encantam por si só. A abertura do álbum, com "Sinal da Paranóia" é um verdadeiro abre-alas ao que estava por vir, uma música que retrata em sua letra as problematizações da insanidade humana, incluindo níveis de insanidade e identidade. Um feito grandioso, com trabalho perfeito tanto de Pedrão, no baixo e nos vocais, quanto do baterista Pedrinho e do Manito, que passa nas teclas uma amostra das linhas que ainda viria a executar no álbum. "Bicho do Mato", composta por Gastão Neto, é como se fosse uma pancada, um rock na essência que fala dos valores contrários a sociedade moderna com um vocal enérgico e com um encerramento cheio de teclas. "Som Nosso de Cada Dia", composição de Pedrão e Pedrinho, diz que o grupo "é feito para alegrar a cidade e registrar, a mocidade de nosso temporal", e é mais uma daquelas que levam ao pé da letra as belas viradas do baterista, além da habilidade já citada do tecladista, que juntos fazer quase que um belo improviso que dura cerca dos 50 segundos iniciais da faixa. A faixa seguinte, "Snegs de Biufrais" é bem detalhada nos vocais de Baldanza e Pedrinho, que compuseram uma bela harmonia. A quinta faixa do álbum, pode ser resumida, assim como a "Bicho do Mato", como uma pitada de Brasil no som da banda, "Massavilha" tem de tudo um pouco, é rica em regionalidade, e, apesar de composta pela dupla que também assinou as duas faixas anteriores, funciona de fato como uma masterclass de Manito, que a cada exibição consegue aumentar seu prestígio e ratificar o talento já consolidado, ainda temos na segunda metade da faixa, alguns versos cantados em uma harmonia por Pedrinho e Pedrão. "Direccion de Aquarius", como o nome dá a dica, é cantada em espanhol, mas também em inglês e tem grande enfoque na parte vocal, possuindo um instrumental bem minimalista que dá uma atmosfera bem peculiar. A faixa mais extensa do álbum, "A Outra Face", é um verdadeiro rock progressivo, intercalando versos curtos de teor bastante enigmáticos com sessões, ora com uma pegada mais rock, ora uma pegada mais fusion, fazendo quase uma jam nessa que é uma das faixas mais complexas do grupo.
            Snegs foi lançado em 1974 e sua coroação foi a escolha da banda para abrir os cinco shows de Alice Cooper no Brasil. Possessos de gana por tamanha oportunidade, o grupo não faz por menos e amplia sua música para pelo menos 130 mil presentes nos cinco eventos. Alguns, como no Rio de Janeiro, foram tão impactantes a ponto de descartarem a atração principal em virtude do impacto que a banda passou nos novos fãs. O álbum marcou e ratificou aquele que é aclamado o mais importante do rock progressivo no país, que resumia competência nos instrumentais e nas letras, além de muito talento para superar as adversidades, literalmente como se diz a letra de Snegs de Biufrais, bebendo a vida num gole só.


  • Avaliação:


  
  • Ficha Técnica:

Gravadora:Continental
Lançamento:1974
Gênero:Rock Progressivo e Música Regional

  • Faixas:

A1) Sinal Da ParanóiaCompositores: Cimara e Pedrão Baldanza6:00
A2) Bicho Do MatoCompositor: Gastão Neto                               3:52
A3) O Som Nosso De Cada DiaCompositores: Paulinho e Pedrão Baldanza5:10
A4) Snegs De BiufraisCompositores: Paulinho, Pedrinho e Pedrão Baldanza    2:20
B1) MassavilhaCompositores: Paulinho e Pedrão Baldanza              6:00
B2) Direccion De AquariusCompositores: Paulinho e Pedrão Baldanza              5:37
B3) A Outra FaceCompositores: Pedrinho e Pedrão Baldanza              7:54


  • Créditos:
Vocais:Pedrinho e Pedrão Baldanza
Vocais de Apoio:Manito, Marcinha, Pedrinho e Pedrão Baldanza
Baixo:Pedrão Baldanza
Viola:Pedrão Baldanza
Piano, Órgão e Sintetizador:Manito
Bateria:Pedrinho
Violino:Manito
Flauta e Saxofone:Manito
Produtor:Peninha Schimdt


  •  Gravado nos estúdios Sonima em maio de 1974, São Paulo, Brasil.



Bicho Do Mato



Massavilha
 
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